"A casa dos meus delírios literários"


Palavras escritas são como melodias perfeitas,
que precisam de ritmo
ou vão "gritar" aos ouvidos sem nada dizer.
- Kane Ryu


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domingo, 3 de outubro de 2010

Segredo da Escuridão: Histórias Perdidas 11

"O limite do que é real e do que não é, está nos olhos de quem vê." - Kane Ryu


Quando entrei no meu quarto de hotel, estava tão feliz e distraída, que só percebi que não estava sozinha, depois que passei a chave na porta.

Se fosse apenas um homem, provavelmente eu teria tempo de abri a porta e sai correndo pelo corredor. Afinal não seria idiota de parar e perguntar “quem é?” como as mocinhas de filme de terror costumam fazer... As que morrem, devo ressaltar. Só que ele era um vampiro e num piscar de olhos, lá estava, parado as minhas costas, me impedindo de virar a chave e sair do quarto.

_ Sabe quem sou, não seja tola. _ o vampiro sussurro no meu ouvido me causando arrepios.


“Aquilo só podia ser um sonho”, pensei.

Sonho sim, porque como uma fã-louca-alucinada por vampiros, claro que sempre sonhei com um vampiro no meu quarto. Fã de vampiro que nunca sonhou com algo assim, que atire a primeira pedra!

Só que aquilo era vida real. E, afinal, não estava no Rio de Janeiro por ele? Sim, de certa forma essa era a verdade. Eu leio a série de livros de E.H.Mattos tem anos. Ainda era adolescente quando li o primeiro livro. Adoro quase todos os personagens, mas o vampiro que é descrito como um verdadeiro malandro da Lapa carioca, só que francês, sempre atraiu um interesse maior da minha parte. Imagina um vampiro assim? Nada de capa preta, ou purpurina. Ele vivia entre as pessoas noturnas, em uma cidade grande e tinha até amigos entre elas, amantes... Uma vida quase normal, se não fosse um vampiro.

Por causa dos livros de Mattos, enquanto jovem, eu sempre perturbei meus pais para conhecer o Rio de Janeiro. Só que é claro que eles nunca me deixaram conhecer a cidade. Afinal antes de mais nada, o Rio era uma cidade grande. Perigosa aos olhos de pessoas nascidas e criadas em cidade pequena. Minha família, toda do interior, em geral, desejava ficar bem longe das capitais. Só que eu nunca pensei assim. Sempre quis conhecer São Paulo, Curitiba e principalmente Brasília, nossa bela capital, mas os livros de vampiros de Mattos me fazia desejar conhecer o Rio desesperadamente. O que se tornou uma obsessão. Só que eu era de uma família simples, não tinha muita opção, além de viajar através da literatura.

E foi graças a minha paixão por ler que eu tive vontade de estudar muito, me formei, passei em concurso e comecei a ganhar meu próprio sustento, ajudando meus pais com as despesas. Então após alguns anos de ardo trabalho como professora universitária e de concursada. Aproveitei uma das minhas férias e encarar os medos. Resolvi conhecer a cidade maravilhosa.

Engraçado que já tinha viajado para algumas cidades, mas sempre de interior. Algumas próximas de Resende, onde moro (que fica no interior do estado do Rio de Janeiro), como Volta Redonda, Barra Mansa, Itatiaia, Penedo... E outras fora do estado como São Lourenço em Minas Gerais, São José dos Campos e Aparecida em São Paulo.

Só que o Rio de Janeiro era minha paixão. Coisa de fã, querer visitar um lugar por causa de um livro ou filme. E eu era uma fã apaixonada pelas histórias de Mattos, coisa que para o desespero dos meus pais, não mudou depois que a adolescência se foi e me tornei uma adulta.

_ Como me achou? _ eu indaguei me mantendo imóvel, olhando o vampiro de rabo de olho.

Ele estava com o olhar fixo no nada e eu voltei a olhar para frente, encarando a porta fechada.

_ Se não queria que te achasse, porque foi a Lapa?

_ Porque eu queria conhecer o lugar descrito em um dos meus livros favoritos?

_ Mentira... _ ele sussurrou no meu ouvido, me arrepiando _ No seu íntimo você queria me encontrar lá.

Eu fiquei calada. Era verdade.

_ Cuidado com que deseja, pequena, quase sempre se consegue.

_ E esse é o problema, não é?

O vampiro deslizou suas mãos suavemente pelos meus braços, entrelaçou seus dedos nos meus, me abraçando de uma forma que ele tinha minha jugular exposta a sua frente e eu não tinha como escapar.

Beijou meu pescoço e eu estremeci, confesso que pela carícia e não por medo.

“É um sonho! Só pode.”

Foi o que pensei, fechando os olhos e acreditando por um instante que iria acordar num susto, como em tantas outras vezes em que sonhei com ele... Meu vampiro loiro.

_ Não é sonho, pequena.

_ Você realmente pode ler minha mente?

_ Se não pudesse, como saberia que veio ao Rio só para me conhecer.

_ Eu sei que devia está apavorada, mas...

_ Sabe que se eu fosse fazer algo ruim contigo, já teria feito.

O vampiro me fez virar e encará-lo. E eu te digo, nunca olhe nos olhos de um vampiro... Se fizer, já era!

Seus olhos eram azuis, tão intensos quanto descritos nos livros e exatamente como imaginei. Seu rosto tinha traços suaves de rapaz de 20 anos, sua pele era tão branca que parecia porcelana fina e seus cabelos longos e ligeiramente encaracolados, me fazia lembrar aqueles "mauricinhos" de filme de época, com aquelas roupas de babado... Resumindo. Ele era lindo!

_ Vai me matar?! _ eu perguntei, sem pensar, mas se tivesse apenas pensando não faria diferença, afinal ele lia minha mente.

_ Com medo?

_ Devia... Eu sei...

Eu não conseguia pensar, tinha meu olhar preso aos olhos do vampiro e, sinceramente, se o mundo acabasse eu não estava nem ai, contando que ele continuasse me abraçando.

Ficamos por um breve momento nos olhando, em silêncio, até que ele resolveu beijar meus lábios brevemente. Como não o repeli, ele tornou a me beijar, dessa vez com paixão e eu retribui aquele beijo como se minha vida dependesse dele... Na verdade, creio que seria o contrário, mas se estava no inferno, o jeito era abraçar o capeta. E lindo daquele jeito, eu ia para o inferno feliz da vida.

Ele me pegou no colo e me levou para cama enquanto ainda nos beijávamos e continuamos a nos beijar por um tempo até a coisa ficar mais quente e eu sentir seus lábios deslizarem por meu queixo, pescoço, alcançando meu colo e então indo na direção da jugular.

Foi quando eu percebi o perigo daquela situação e congelei.

_ Não vou te matar, sou tudo que Mattos descreve em seus livros.

_ Como posso ter certeza?

_ Não pode. _ diz o vampiro me olhando fixamente, me hipnotizando.

Não lutei, me deixei entregue ao desejo dele, a sua sede... E afinal o beijo do vampiro era tudo que Mattos descrevia e muito mais.

Quando finalmente ele afastou seus lábios do meu pescoço, pareceu querer esconder seu rosto, eu me preocupei e o questionei:

_ O que foi?

_ Só preciso de um tempo para me recompor...

_ Recompor? _ indaguei confusa.

_ Não quero te assustar. _ diz o vampiro, mantendo seu rosto voltado para o lado.

Eu toquei o rosto do vampiro e o fiz olhar nos meus olhos. Vi seus olhos cintilando como em chamas, seus caninos estavam ocultos, pelos lábios fechados ainda sujos com meu sangue, mas seu aspecto era inumano mesmo assim.

Toquei sua boca e ao perceber o motivo, ele tentou limpar o sangue, parecendo um tanto constrangido, mas eu o impedi.

_ Não precisa. _ eu disse, tocando seus lábios com os meus em seguida.

Primeiro eu o beijei e então passei minha língua por todo o contorno de sua boca, provando do meu próprio sangue.

Aquilo provocou a reação que eu queria, fazendo o vampiro me beijar com a paixão de um homem. Despertando desejos humanos nele, provocando sensações... Foi a noite mais surreal que tive em toda a minha vida, a qual sempre lembrarei, acredite, com saudosismo.

Quando acordei na manhã seguinte, sozinha naquela cama de hotel, por um momento eu pensei que tudo tinha sido um sonho. Só que minha nudez e as mordidas do vampiro por meu corpo, logo me provaram que tudo tinha sido muito real.

Jurei nunca mais voltar ao Rio. Não por medo do vampiro, mas por temer meus próprios desejos.

Relato de uma fã das histórias de vampiro de E.H.Mattos, transcrito por Kane Ryu.

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