Quando entrei no meu apartamento aquela noite, fui pego de surpresa ao dar de cara não só com Beatrice, que praticamente estava morando comigo a mais de um mês, mas por encontrar a Gangue das Presas quase completa na minha sala.
_ Acho que vocês erraram o prédio... Tipo alguns quilometros. _ eu comentei fechando a porta, após me certificar que não havia ninguém pelo corredor, só para ter certeza que nenhum vizinho estava por perto _ Vocês moram na Zona Sul, esqueceram? Naquele prédio assombrado em Copacabana.
Beatrice, que tinha uma expressão muito aborrecida devo ressalta, olhou na minha direção por um momento e voltou a encarar o laptop que estava na mesinha de centro da minha sala.
_ Devia lembrar a Beatrice disso, Kane, pois se ela tivesse voltado para casa nas últimas semanas, nós não teríamos invadido seu apê. _ falou Lipe sério, mas parecia está contendo uma louca vontade de ri.
O vampiro olhava para o monitor do laptop diante dele, que o irmão gêmeo, Cris, usava com uma impressionante habilidade.
_ E o que de tão grave aconteceu, para fazer todos virem até meu humilde lar?! _ exclamei ficando preocupado.
_ Antes fosse algo grave! _ diz Beatrice revirando olhos, nada contente.
_ Devo lembrar que foram vocês que falaram que eu moro onde o Judas perdeu as meias. _ aparentemente o senso de humor dos vampiros não é como o meu de reles mortal e todos me ignoraram, com exceção de Beatrice.
Eu a olhei confuso, pois não conseguia imaginar um motivo que fizesse aqueles 4 vampiros deixar a Zona Sul e virem até o meu apartamento, se não fosse algo muito sério.
Os vampiros adoravam falar do quanto eu morava mal, o que para eles significava longe da agitação noturna da cidade, que era concentrada na zona sul do Rio de Janeiro. Diferente do bairro em que os vampiros moravam, os bairros em Jacarepaguá tinham pouca agitação noturna, em alguns lugares, como onde eu morava, não tinha coisa alguma para fazer com o cair da noite, no máximo alguns shoppings abertos pelas proximidades.
Para eles era um tédio total e a não ser que pretendessem invadiar resisdências, nem caçar podiam, pois pouca gente saia a rua pela área. Ou ficavam em casa, ou iam para a zona sul carioca.
_ Tenho certeza que o Kane vai concordar conosco. _ disse Lester, enquanto inclinava-se para tirar o laptop da mão de Cris, virando-o na minha direção e dando o play no video que estava na tela.
Escutei Luigi ri num canto da minha sala, sentado na poltrona de couro antiga que tinha sido do meu avô. Aquilo sim me assustou. O vampiro estava estranho, para o padrão rabugento normal dele, desde que voltou da viagem a Europa. Vivia rindo e sorrindo.
Olhei para a tela do pc, curioso para saber o que tinha naquele video para fazê-los vir a Jacarepaguá e o choque não demorou a acontecer. Era o clip de uma cantora conhecida, a qual inúmeras vezes os vampiros já tinham comentado ser parecida com a Beatrice. Comentário que sempre deixava minha adorável vampira aborrecida
_ Que inferno! _ exclamou Beatrice ao perceber meus olhos arregalando enquanto via o clip _ O cabelo dela não tem nada a ver com o meu. O dela é liso e de um loiro tão claro que parece de boneca... Muito artificial! Já os meus são natuais. _ comenta orgulhosa _ Belos cachos dourados 100% não-pintados.
_ Seria estranho uma vampira ter que pintar o cabelo. _ comentou Luigi, corajoso, já que o olhar fuzilante de Beatrice estava fixo nele agora _ especialmente uma transformada na sua idade.
"Sorte de Luigi que Beatrice não tinha visão de calor", pensei.
Infelizmente para Beatrice, a cantora no video era realmente muito parecida. Se Beatrice não fosse uns dois milênios mais velha podíam ser irmãs.
E por isso, enquanto eu via o video, sentia calafrios. Porque mesmo que o cabelo fosse diferente, a cantora era um clone de Beatrice, isso incluía desde os movimentos mais sutis, até o jeito maroto de sorri.
Quando o clip terminou, eu não falei nada e diante do meu silêncio Luigi falou:
_ Até seu namorado mortal viu a assustadora semelhança, Beatrix. _ comentou carregado no sotaque italiano _ Cara mia, a moça do video é uma sósia sua de cabelo liso.
_ Cala a boca, Luigi. _ falou Beatrice aborrecida, cruzando os braços e fechando a cara _ Queria ter o poder de mudar de forma, ia virar uma mulher bem alta, de cabelo liso e escuro...
_ Essa é a Xena. _ não resisti em comentar, mesmo arriscando a ser morto pelo olhar fatal que ela me lançou.
_ Eu não sou parecida com ela!
Lipe tirou uma foto de Beatrice fazendo bico, usando a camera de seu celular, com uma precisão e agilidade tipicamente vampiresca, que a fez silenciar e esperar pelo próximo movimento do gêmeo. Depois de encontrar um foto da cantora semelhante, o vampiro colocou as duas fotos juntas no visor do smart fone e falou mostrando para todos nós as fotos:
_ Tirando o cabelo, são iguais de aparência e cara feia. Ela até tem os caminos meio salientes... Será que é da família?
Beatrice nem olho, veio na minha direção, passando ao meu lado pisando duro; então abriu a porta e saiu do meu apartament batendo a porta.
_ Jura que vieram aqui só para irritá-la? _ eu perguntei a Lester, que era um dos poucos que realmente me davam alguma atenção.
_ Eles não tem noção do perigo! É o problema de serem caçulas. _ disse Lester me lembrando que depois dos gêmeos, Beatrice não tornou mais ninguém vampiro.
_ E você veio junto por quê? _ eu questionei Lester.
_ Acha que eu ia perder isso?! _ exclamou Lester abrindo um sorrindo enorme, que morreu de súbido.
Lester olhou na direção da porta e após um instante, falou:
_ Pessoal, acho melhor usarmos a saída de emergência... Ela está voltando.
Dito isso, Lester foi para a sacada do meu apartamento.
_ Não tem saída de emergência pela sacada...
Desisti de falar, já que Lester subiu no parapeito e pulo.
"Vampiros. Sempre esqueço que não precisam de coisas, como escadas, para ir e vir."
Luigi de repente levantou e correu, seguindo os passos de Lester.
Torci para meus vizinhos estarem todos dormindo aquela hora e que ninguém tenha visto os vampiros... Fazendo vampiradas.
Foi então que ouvi a porta do meu apartamento ser escancarada e Beatrice surgiu... Com um machado, que provavelmente era o mesmo que ficava junto ao extintor de incêndio de cada andar. E a feição de maníaca era quase igual a de um típico assassino homicida em filme de terror.
Antes que os gêmeos pudessem reagir, ela deu uma machadada no laptop, que no instante seguinte jazia em duas parte sob minha mesinha da sala, que acabou avariada também.
_ Se não sairem daqui agora, a próxima e na cabeça de um de vocês! _ ela falou, enquanto eu fechava a porta rápido, na esperança que ninguém tivesse visto ou ouvido o que estava acontecendo.
Quando voltei a olhar na direção que os gêmeos estavam, só havia Beatrice que ainda segurava o machado.
_ Estou me sentindo num filme de terror. _ comentei apontado para o machado.
Minha cara devia ser de pânico, pois rapidamente a expressão maníaca dela sumiu diante de um de seus sorrisos radiantes, de vampira, mas com certeza radiante. Era como se quisesse dizer que estava tudo bem, que eu não precisava ficar com medo dela... Eu pelo menos não.
_ Desculpe, acho que exagerei, mas ando sem paciência com aqueles pestes.
_ Mas precisava apelar para violência? O pobre do laptop não tinha culpa... Tão pouco a minha mesinha.
_ Sou uma garota, acho que tenho direito... POR LEI, a surtar vez ou outra. _ comentou rindo da molecagem.
_ Ainda bem que é vampira e só surta vez ou outra. Não queria te conhecer surtada quando mortal.
Beatrice deixou escapar uma gostosa gargalhada e então falou:
_ Mulher mortal surtada é um perigo.
_ Átila, o Huno que o diga.
_ Verdade. Eu sempre preferi lidar com os homens mortais que com as mulheres.
_ Eu já percebi. _ comentei, afinal eu não conhecia ou já tinha ouvido falar de uma única vampira sequer, que foi transformada por Beatrice. Todos que foram transformados por ela, que eu conheci, eram do sexo masculino.
Eu me aproximei dela e tirei o machado gentilmente de suas mãos, colocando-o na mesa de centro, com um talho profundo e as duas partes do laptop dos gêmeos.
_ Está me devendo uma mesa. _ falei sorrindo.
_ Compro uma novinha com o maior prazer, pois a cara dos dois vale o gasto. Não tem preço!
Eu a abracei pela cintura, enquanto a puxei para mais perto, beijando-a demoradamente. Perturbações costumeiras pareciam não nos abalar naquele momento, estavamos meio que em lua de mel e era por isso que Beatrice não voltava ao próprio apartamento a tanto tempo.
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