"A casa dos meus delírios literários"


Palavras escritas são como melodias perfeitas,
que precisam de ritmo
ou vão "gritar" aos ouvidos sem nada dizer.
- Kane Ryu


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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Segredo da Escuridão: Histórias Perdidas 14

Sabe aquele negócio de vampiros e lobisomens terem olfato apurado ser muito constrangedor, especialmente em algumas situações? Quando o assunto é só lobos, fica só no constrangedor, afinal um lobo vai te achar fedorento e simplesmente se afastar, ou te zoar se for mais íntimo. O problema é quando topa com um vampiro.

Lobos são seres territoriais e por isso vivem geralmente em comunidades afastadas, indo as cidades humanas eventualmente. Já o instinto territorial dos vampiros parecem mais com os dos colonizadores portugueses quando chegaram no Brasil e encontraram os índios, ou da Máfia. Ou seja, coitado de quem se meter com eles.

Eu, claro, descobri isso da pior forma possível. Sou nascido e criado no Rio, mais especificamente em Jacarepaguá. Vi as dunas da Barra assim como a inauguração do primeiro shopping. Minha família morou por muito tempo em um apartamento em um dos bairros pertencente a velha fazenda que existiu na região. Quando meu pai morreu, minha mãe mudou para Copacabana e eu fiquei no apartamento. Adoro Jacarepaguá.

Como morava sozinho, não podia me dar ao luxo de perder meu emprego e por isso sempre sobrava os piores trabalhos no jornal. Por isso, todo fim de ano era a mesma coisa, meu chefe me "presenteava" com um convite para uma festa vip de celebridades que eu simplesmente odiavar ter que ir. Só que o "presente" não tinha como devolver, pois se eu não escrevesse uma matéria sobre as fofocas que rolaram na festa, era rua. E como não era minha área no jornal, meu chefe arrumou um pseudônimo feminino, para ter "credibilidade". O que era ótimo, afinal eu não queria ter meu nome em tal tipo de matéria.

Foi em uma dessas festas de fim de ano que descobri o quanto pode ser perigoso ter o cheio de vampiro. Um vampiro tem poderes e como humano, eu tinha só um pescoço para arriscar.

Eu cobria um evento de uma TV local para o jornal e o evento me irritava mais do que eu podia disfarçar. Eu, sinceramente, preferia um livro a TV, especialmente com a programação da época, repleta de reality show e programas repetitivos e tediosos.

Estava na festa contrariado e o que era ruim, se tornou insuportável. Eu tentava prestar atenção em algo. Um escândalo que fosse, para deixar meu chefe feliz e ir embora, mas nada acontecia na festa e foi naquele momento que eu vi um morena de fechar a Sapucaí.

O problema foi que ela também me viu. E seu sorriso malicioso me causou arrepios... De medo. Por um momento achei ter visto caninos um tanto afiados, na dúvida, optei sair de fininho. Só que ela percebeu meu pânico e minha fuga, o que a fez se aproximar num piscar de olhos. Como a iluminação da boate estava mínima, ela não teve problemas de usar seus dons vampirescos para se aproximar bem rápido de onde eu estava.

_ Então sabe quem sou. _ diz sorrindo e deixando novamente os caninos visíveis por um momento.

Era uma vampira, infelizmente não foi ilusão de óptica. Claro que tinha que ser, um mulherão daquele não ia dar bola para um repórter nerd de um jornal de quinta, ia? Droga, Murphy!

Ela segurou meu braço com força e me puxando para um canto mais reservado.

_ Melhor não tentar nada, ou quebro seu braço. _ diz a vampira olhando discretamente a nossa volta, preocupada _ Quem é você, garoto?

Teria achado engraçado a vampira me chamar de "garoto", quando eu parecia ser mais velho que ela, mas o momento não era para graça.

_ Sou um reporter. _ eu respondi.

_ Como descobriu?

_ Descobriu o quê?

_ Não se faz de bobo.

_ Realmente não sei do que está falando. _ eu me fiz de bobo, mas tremia na base.

A vampira me olhou fixamente por um breve instante e então mordeu a ponta do próprio dedo indicador. Vendo o sangue no dedo, o apontou para minha boca e eu recuei o máximo que a parede me permitiu, fazendo-a ri, divertida. Ela levou o dedo a sua boca e lambeu o próprio dedo de forma muito sexy. Depois me imprensou na parede e eu seria o nerd mais sortudo do mundo, se o brilho sinistro no olhar dela não me falasse que eu estava muito encrencado.

_ Você cheira a vampiro, garoto. É amante de um, não é? _ ela diz com a certeza no olhar _ Não adianta negar.

A vampira ensaiou me beijar na boca e então eu fiz um sinal afirmativo com a cabeça, pois naquela altura do campeonato, não conseguia falar. Então ela afastou o rosto um pouco, mas ainda me mantinha contra a parede. Ela me analisou demoradamente e então perguntou:

_ De onde é seu amante?

_ Minha.

_ Sua amante... Que seja! De onde é?

Como não queria meter minha amada em problema, evitei dar muito detalhe.

_ Da zona sul, mas não sei onde...

Parei de falar diante da expressão de pavor da vampira.

_ Boa sorte, garoto. _ diz a vampira se afastou e me deixando livre, ainda me encarando com temor _ Cuidado, ser amante de qualquer vampiro daquela área é assinar um atestado de morte.

Ignorei o último comentário, pois não resisti em perguntar, antes da vampira ir embora, como ela sabia que eu tinha um envolvimento com uma vampira.

_ Como soube?

A vampira hesitou, mas então voltou-se na minha direção novamente e disse:

_ O cheiro fica mesclado num humano de uma forma intensa por um tempo prolongado, quando se tem contato mais íntimo com um vampiro. Quer uma dica? Perfume doce. Ele ajuda a confundir e disfarça um pouco o cheio. Assim você evitará problema para outros vampiros.

_ Quer dizer quer dizer "com outros".

_ Não. O vampiro que se meter com você que estará muito encrencado. Já você... Boa sorte mesmo! Vai precisar de muita.

Como Murphy era um grande fã meu, acho que sorte era algo que eu não teria a meu favor.

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2 comentários:

  1. hahaha, coitado do kane! Fica cheirando a vampiro por aí...melhor que cheiro de cachorro molhado? =p Ainda bem que a vampira dele mete medo...ou não? =D

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  2. No meu universo vampiresco, vampiro vegetariano é lenda urbana. ;)

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