"A casa dos meus delírios literários"


Palavras escritas são como melodias perfeitas,
que precisam de ritmo
ou vão "gritar" aos ouvidos sem nada dizer.
- Kane Ryu


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domingo, 18 de abril de 2010

Segredo da Escuridão: Histórias Perdidas 06

Quando se é um xereta profissional... Quer dizer jornalista. Temos a tendência a buscar pela verdade em palavras, que nos parecem soar mentirosas. Infelizmente algumas vezes é melhor não saber.

Mas como resisti a tentação de desvendar a mente do ser amado, quando a chance cai em seu colo.


Segredo da Escuridão - Histórias Perdidas

Lapa dos Boêmios e Vampiros


(Texto transcrito por Kane Ryu)

Creio que devia acreditar que um marinheiro deve ter uma lábia irresistível, mas depois de meses ouvindo sobre o quanto a noite da Lapa é incrível, resolvi aceitar o convite. Sendo que essa paixão pelo lugar, vem da época que eramos meros turístas na Cidade Maravilho, o que me despertou a curiosidade tenho que admitir. O que teria esse lugar de tão especial?

Afinal, resolvi ir a Lapa, não por ser meu marinheiro francês bom de papo, mas porque estava mesmo curiosa. Ele sabe ser irresistível quando quer, é verdade, mas ainda assim nunca faço o que não quero.

Dancei a noite toda em seus braços e também com alguns chamosos rapazes, que frequentavam o lugar onde fomos dançar. Mantendo sempre o respeito, porque mesmo que a Lapa fosse frequentada por mulheres de caráter duvidoso, eles pareciam não querer arrumar problemas com a dama, que estava na companhia daquele que chamavam de "Malandro francês".

"Não podiam imaginar que a dama que era o perigo."



Eles o chamavam de "Malandro francês", não por ser loiro de olhos azuis, provavelmente o chamaria de alemão por isso, mas pelo carregado sotaque francês. Dado a dificuldade de aprender o português. Sempre reclamando e afirmando que seria mais fácil aprender japonês.

Já eu, era uma carioca... De Roma, mas carioca. Não tinha sotaque que pudesse dizer que eu não era do Rio e como a cidade é repleta de pessoas de diversas origens, não tinha como dizer que alguém não era carioca, só olhando para a pessoa. Era sempre o sotaque que revelava sua origem.

A noite foi incrível, dance e ri como a muito tempo não fazia. Por isso relutei em voltar para casa. Mas o dia se aproximava e precisávamos nos recolher.

Na volta, entre a Lapa e nossa residência, havia um cemitério. Um dos vários que a cidade possuía. E o cheiro de sangue fresco, me chamou a atenção, a suspeita movimentação no local. Não tratava de sangue vindo das sepulturas recentes. Era sangue saído das veias de alguém.

_ Não podemos deixar isso para outros?

_ Sabe que não. _ eu disse vendo a expressão relutante no rosto do meu belo acompanhante _ Agora que estamos morando na cidade, é nosso dever ajudar a manter a ordem por aqui.

_ Sei. Sei. Sei... Os humanos não podem conhecer a verdade sobre nossa existência e se algum dos nossos, não seguir tal regra, devemos "convencê-lo" a se comportar... Eu sei.

_ Então não devia ter me questionado, para início de conversa. _ eu conclui seguindo para o cemitério, para ver o que de errado havia, tendo meu marinheiro relutante a me seguir.

Ele odiava cemitérios. Sempre o lembrava da época de mortal, quando em Paris, tinha que conviver lado a lado do cemitério local e seus mortos. E eu confesso que também nunca gostei de tal costumo humano. Acho mais digno a cremação.

Em fim, não tinhamos escolha e nos embreamos em meio as alamedas do cemitério, tentando ignorar o cheiro de morte. Tínhamos que ver o que seria tal movimentação... Que já sabiamos de antemão, não se tratar de humanos, mas sim de seres conhecidos por eles como sobrenaturais. Só não tínhamos certeza se era um vampiro como nós. E mesmo após colocarmos os olhos no ser presente no local, ainda ficamos na dúvida.

A cena que se seguiu foi pavorosa até para nós e olha que já vi vampiros selvagens, alguns chegavam a bestialidade de tão alterados. Só que aquele ser que se alimentava do sangue e, creio eu, até da carne do humano já morto, era algo que chegava próximo aos monstros descritos nos livros de ficção dos humanos. Monstros sanguinários, descritos em livros, que na maioria das vezes eram tão monstruosos, que iam além do que nós vampiros realmente podíamos ser. No entanto, aquele ser diante de nós, era muito semelhante a tais descrições.

_ O que é isso?! _ questionei perplexa com o que via.

Só que meu questionamento em voz alta, voltou a atenção daquele ser para a nossa presença, o qual nos surpreendeu investindo em um ataca. O mais assustador foi que ele pretendia nos morder, como se fossemos meros humanos. Sendo que a surpresa maior foi ele recuar, diante da minha tatuagem em forma de cruz.

_ Ele tem medo de cruz?

_ É o que parece. _ eu retuquei ainda me recuperando do susto _ Vá para a casa agora. Eu vou resolve isso.

_ Vai matá-lo?

_ Sabe que não tenho escolha.

Meu adovável acompanhante, mesmo sendo muitas vezes intimidador aos olhos humanos, era incapaz de matar a sangue frio. Sempre dava um jeito de evitar, mesmo sabendo que muitas vezes era a única alternativa. Mas eu tinha mais séculos de existência que podia contar e muitos mais que ele, logo aprendi muito bem que em certos momentos, a morte é a escolha mais sábia e digna.

_ Sabe que ele não seria capaz de sobreviver despercebido.

Sorrindo sem jeito, com um breve movimento positivo com a cabeça e aceitando a sentença do infeliz, que agora fugia desesperado pelo cemitério, meu marinheiro atendeu a minha ordem de ir para casa. Enquanto eu seguia na direção oposta, atrás do morto que caminhava... Literalmente.

Segui facilmente seu rastro e logo o encontrei encurralado em um dos muros do cemitério. Ele olhava para as cruzes a volta com desespero e sua intenção de me atacar outra vez, foi parada com a visão de minha tatuagem.

_ O que é você? _ eu indaguei pensativa, enquanto tirava meus leques das cintas, que os mantinham ocultos por baixo do meu vestido, um de cada lado do meu corpo _ Desculpe, amigo. Sei lá o que tinha na cabeça de quem te criou, mas não creio que está feliz com essa existência.

Tenho que dizer, que acho que estava certa, pois minutos antes de ser decapitado, pude ver uma expressão grata nos olhos daquele ser, como se tivesse feliz ao ver que eu estava dando fim a sua existência maldita.

K.R.

Trecho de um relato contido no diário de minha amada imortal, datado de 31 de janeiro de 1938.

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3 comentários:

  1. Muito legal esse conto também. Parabéns... :D

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  2. Hum... Vampiros locais, hein? Kaori precisa saber disso! rssrrsrsrrsrs
    Parabéns pelo conto!

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  3. Kaori é bem-vinda a confraternizar com os coleguinhas cariocas. hehehehe

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