Beatrice me perguntou e eu gelei. O que eu fiz? O meu silêncio só a fez desconfiar ainda mais.
Eu tentava pensar em algo, mas era difícil com ela a me olhar com tanta intensidade.
Quando Beatrice usou sua super-velocidade para ficar cara a cara, acabou. Não tinha como fugir da questão. Tinha que contar a verdade... Quer dizer, não tinha, mas na falta de uma boa mentira, era o que me restava. Porém ela me surpreendeu "adivinhando" o que fiz.
_ Foi até o meu apartamento... Qual a parte do "não quero você por lá sozinho" é difícil de entender?
_ É nessas horas que continuo desconfiado que só diz que não lê minha mente, para me deixar confortável.
_ Não preciso ler sua mente, é tão previsível que eu jogo verde e você se entrega.
Olhei nos olhos azuis dela ofendido, mas nada disse, porque era verdade. Minha ex-mulher sempre diz isso. Somos e sempre seremos amigos, por isso ela adora tirar onda com a minha cara sempre que pode. Intimidade é uma droga e ter a melhor amiga como ex-mulher também não ajuda.
_ O que viu por lá, que te fez correr para cá tão nervoso?
_ Droga! Sou mesmo tão óbvio assim?
_ Nem faz ideia! _ exclama Beatrice gargalhando, divertida.
_ Sabe que tem um fantasma no segundo andar?
_ Sim.
_ Sim? Como fala isso assim, nessa calma! Quase morri de susto!
_ Sou uma vampira, não tenho como morrer de susto... Alias, sou imortal. Eu nunca vou morrer.
_ O que mais existe nessa suas socidade das sombras? Vampiros, lobisomens, fantasmas... O que mais?
_ Por enquanto é melhor ficar por ai. Se o fastama te assustou, ainda não está preparado para o restande da "família". _ falou Beatrice beijando meus lábios rapidamente _ Estou entendiada, preciso ir a algum lugar para dançar.
_ Dançar com você é humilhante, sou muito ruim.
Beatrice riu.
_ Eu sei, por isso é divertido.
_ Então porque não dançamos aqui, onde não há testemunhas do meu mico.
_ Porque quero ver gente.
_ Ver?
Ela não respondeu, só lançou um olhar enigmático que me causou calafrios. Se aproximou de forma que pode sussurar em meu ouvido.
_ Vampira. Não esqueça nunca. É o que eu sou.
Ela me encarou e então seguiu para o meu quarto.
_ Vamos ver que roupa tem naquele seu armário de nerd.
_ Fique longe das minhas blusas de super-heróis.
_ Não se preocupe, não sou o tipo de mulher que faz dos amantes um boneco Ken, os ventindo como querem e os proibindo de usar o que gostam. Todo mundo tem direito a usar o que quer e gosta, só quero ver se tem algo mais sofisticado, assim podemos ir a um lugar bem chique.
_ Eu sei ser chique, só gosto de ser básico no cotidiano. _ eu comentei seguindo-a até o quarto.
_ Ótimo!
_ Mas me diga qual é daquele fantasma? Ficou irritado ao me ver falando com a moradora do 201.
Beatrice parou e voltou-se na minha direção preocupada.
_ Ele era moreno de olhar sinistro?
_ Não... Isso é relevante?
_ Você se assustou com o Teodoro?! Ele é um amor! _ ela revelou _ Só que é apaixonado pela humana do 201, então já viu... Ficou com ciúmes de você.
_ Por quê? Não fiz nada.
_ Não precisava. O fato de estar vivo que o irritou.
_ Faz sentido... Espera ai, tem outro fantasma no segundo andar?
_ E um no térreo...
_ Fala sério!
_ Estou. Mas o problema é o outro, o moreno. É desse que tem que ficar com medo.
_ Não acredito que há outros.
_ Sim e já falei muito. _ Beatrice falou entrando no meu quarto _ E não quero que você vá ao prédio onde eu moro, sozinho. Fui clara?! Não vou falar de novo.
_ Por causa dos fantasmas? Entendi. E outro susto daquele eu dispenso.
_ Os fantasmas são os menos problemáticos lá.
_ Como assim os menos problemáticos... Beatrice, está querendo me assustar?
_ Estou conseguindo?
_ Sim.
_ Bom. Agora me mostra o quanto você pode ser chique, Sr. Nerd.
_ Olha quem fala?! Não sou eu que tenho um pijama do Darth Vader.
_ É uma peça de coleção!
_ Minha adorável vamp-nerd!
NOTA: Esse conto é a continuação do conto "Uma Vampira na Janela" de E.H.Mattos no blog Segredo da Escuridão - Contos Sombrios.
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